fractais 9

as nuvens

pesam

os sonhos

pousam

eu passo

e ninguém me olha

dizem que viajo muito

que vivo no ar

que não estou nem aí

tolices

disfarço muito bem

no palhaço escondo o velho excessivamente sério

taciturno

cabisbaixo

e atrás dos inúmeros sorrisos

há rugas e saturnos

o peso das ideias

o poço sem fundo

das mais tristes palavras

áspera sua flor

espeta-me essa ternura

é difícil muito difícil

lhe amar deste jeito

em cima do muro

em cima da mesa

enquanto no jardim

as bombas desabrocham

a cidade me chama

e eu finjo

que não ouço

a cidade me ama

e eu morro

de medo

de escuro

de assalto

de que ela me encontre

-de dia ou de noite-

nu com as mãos no bolso

arvore na arvore

folhas que abraçam

outras folhas

aceito a tarde

(que cai)

como elas aceitam

o concreto e o asfalto

algumas luzes

acima e abaixo

dos olhos

entre carros e vozes

entre os juros bancários

e as falhas do coração

(arritmia e bloqueio)

algumas luzes

dentro dos olhos

e fora do alcance

dos canhões de navarone

e da babilônia

algumas luzes

e possivelmente

outros olhos

mil disfarces

somam-se e assumem

uma única frase

impronunciável

aquela que você teme

e sempre ouve

quando não está mais acordado

Francisco Zebral
Enviado por Francisco Zebral em 22/04/2010
Reeditado em 29/09/2012
Código do texto: T2211949
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