fractais 9
as nuvens
pesam
os sonhos
pousam
eu passo
e ninguém me olha
dizem que viajo muito
que vivo no ar
que não estou nem aí
tolices
disfarço muito bem
no palhaço escondo o velho excessivamente sério
taciturno
cabisbaixo
e atrás dos inúmeros sorrisos
há rugas e saturnos
o peso das ideias
o poço sem fundo
das mais tristes palavras
áspera sua flor
espeta-me essa ternura
é difícil muito difícil
lhe amar deste jeito
em cima do muro
em cima da mesa
enquanto no jardim
as bombas desabrocham
a cidade me chama
e eu finjo
que não ouço
a cidade me ama
e eu morro
de medo
de escuro
de assalto
de que ela me encontre
-de dia ou de noite-
nu com as mãos no bolso
arvore na arvore
folhas que abraçam
outras folhas
aceito a tarde
(que cai)
como elas aceitam
o concreto e o asfalto
algumas luzes
acima e abaixo
dos olhos
entre carros e vozes
entre os juros bancários
e as falhas do coração
(arritmia e bloqueio)
algumas luzes
dentro dos olhos
e fora do alcance
dos canhões de navarone
e da babilônia
algumas luzes
e possivelmente
outros olhos
mil disfarces
somam-se e assumem
uma única frase
impronunciável
aquela que você teme
e sempre ouve
quando não está mais acordado