Olhar sem brilho

A nuvem que tolda o meu olhar
não chegou com a primavera
nem com as chuvas de verão
a nuvem que tirou o brilho dos meus olhos
não é fruto da estiagem prolongada
a que faz os fiéis implorarem aos céus
pelas águas divinas
que trarão fartura
que findarão com a agrura
com a sequidão que leva à morte

Esse olhar assim turvado
não me veio tão de repente
não me pegou de surpresa
(in) felizmente
pois um quê de amargo
já me tirava o sorriso da face
algo me predizia o fim do entrelace
o coração já se confrangia antes da razão

Então esse prenúncio de tempestade
que nasce no meu olhar opaco
quase tristonho
nada mais é que amor desacreditado
o sonho novamente abortado
de se viver um sentimento pleno
verdadeiro e poético

Mas a beleza de um céu de brigadeiro
só se revela
a quem passou pelas tempestades
venceu o medo dos trovões e dos relâmpagos
e ficou na escuridão por alguns momentos
E se disso tudo eu provei
também sei que a luz do meu olhar
voltará ainda mais translúcida
numa nova cumplicidade amorosa