Carta a Anna
Olá, Anna
Te escrevo aprendiz
Escrevo à dona do verso
À Dona do Verbo
O verbo que pode
O verso que eclode
Me diz, Anna
De onde vem
Tanta força
Tanto encanto
De onde vem
Tanto
Me conta, Anna
Como vem
O que mostra
O que comove
O que encanta
O que espelha
O que traduz
O que seduz
Porque a poeta
Diante do teu verso
Se reconhece aprendiz
Da que se diz louca
E se diz
Ah, Anna
Anna que compartilha
Anna que mostra
Anna que conta
No seu verso
Uma vida
Um dia
Um momento
Ah, Anna
Tua aprendiz
Te diz
Se louca
Ou lúcida
Que importa
Diante de tanto
Ah, Anna
Tua aprendiz
Te conta
Teu verso
Te mostra
Te salva
A ti
Mas também
Ao outro
E é assim
Espelho e encanto
Que te leio
E releio
E releio
Porque é assim
Que me diz
E se a mim diz
Diz de mim
Porque é assim
Que me conta
E se a mim conta
Conta de mim
Então, Anna
Me ensina
E quem sabe assim
Aprendo também de mim
Que me prefiro louca
Que me permito lúdica
Que digo
Que conto
Que mostro
Não por gosto
Não por vaidade
Mas
Por vontade
Por necessidade
Por lucidez
E aqui
Sentada do teu lado
Te ouvindo
Te aprendo
E me aprendo
E aqui
Debruçada no teu verso
Te lendo
Te vejo
E me vejo
E é assim
Que te escrevo, Anna
Te escrevo aprendiz
Que aprende
E diz
(Janeiro de 2010 - Encantada diante da palavra exposta e forte de Dona Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho, em seu livro “O Auto de Ana, A Louca – Poemas Lúcidos” )