CONTRAMÃO

A vida se perde calmamente

Sem que percebamo-la, se vai.

Às vezes, sem nem um gesto de adeus

Ontem era menino

Hoje sou peregrino

Amanhã serei outra pessoa

Em busca de alguma coisa qualquer

Não me deram carta de despedida

Não me prepararam para a partida

Mas quando chegar minha hora

A vida vai se surpreender

Pois, seu adeus não me importa

Se lhe viro todos os dias às costas

Não lhe darei o prazer de ver o meu rosto

Darei, eu antes, meu adeus

Não com minhas mãos trêmulas e frias

Mas com meu desprezo de todos os dias

Verás que não caminhei em sua direção

Encontramo-nos sempre na contramão

Juntando tudo que se perdeu

E sem que perceba minha real intenção

Agora te confesso sem comoção:

Não vivi para morrer-te em dias

Morri, antes, para roubar-te vida

E deixar-te pelo corpo

As marcas das minhas feridas

Tudo feito calmamente...