fractais 4

olhar para trás

é deixar o banquete

posto à frente

e se contentar

com as migalhas

que se assentam no chão

da memória

é sofrer a fome insaciável

a sede infinda

e o sono das palavras

que falam sem alma

bonitinhas mas ordinárias

tadinho do bilac

do alvares de azevedo

e do gonçalves dias

tadinhos dos seus seguidores acéfalos

amarrados em suas rimas

aprisionados na monotonia

dos seus ritmos pobres comesticos

e contidos na consulta incessante e frenética

ao dicionário e ao manual

dos poetas domesticados

dos poetas premiados

dos poetas que contentam

com os elogios burgueses

e com as benesses do sistema

olho onde vivo

ando onde bate o sol

e a lua e as estrelas de luz

e carne

objetos que existem e doem

e me fazem ficar acordado

ligado

esperto

atento

enquanto as viuvas de bilac

alvares de azevedo

gonçalves dias

e as outras múmias rimantes

babam

no seu leito

imaculado

de sonhos e lembranças

na pele

áspera ou não

carícia gilete sangue

mesmo que não sangre

ainda assim ame

ainda assim sinta

a luz não é cega

não é inócua

e não é estéril

ossos do oficio isso e issa

bashô baixou em mim

haicai e mestre amostra

do ser e fruto

de si que desfruto

e decifro-me

aquele que não fui

deflui demite o inicio

que não terminou

Francisco Zebral
Enviado por Francisco Zebral em 17/04/2010
Reeditado em 20/10/2012
Código do texto: T2201815
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.