fractais 4
olhar para trás
é deixar o banquete
posto à frente
e se contentar
com as migalhas
que se assentam no chão
da memória
é sofrer a fome insaciável
a sede infinda
e o sono das palavras
que falam sem alma
bonitinhas mas ordinárias
tadinho do bilac
do alvares de azevedo
e do gonçalves dias
tadinhos dos seus seguidores acéfalos
amarrados em suas rimas
aprisionados na monotonia
dos seus ritmos pobres comesticos
e contidos na consulta incessante e frenética
ao dicionário e ao manual
dos poetas domesticados
dos poetas premiados
dos poetas que contentam
com os elogios burgueses
e com as benesses do sistema
olho onde vivo
ando onde bate o sol
e a lua e as estrelas de luz
e carne
objetos que existem e doem
e me fazem ficar acordado
ligado
esperto
atento
enquanto as viuvas de bilac
alvares de azevedo
gonçalves dias
e as outras múmias rimantes
babam
no seu leito
imaculado
de sonhos e lembranças
na pele
áspera ou não
carícia gilete sangue
mesmo que não sangre
ainda assim ame
ainda assim sinta
a luz não é cega
não é inócua
e não é estéril
ossos do oficio isso e issa
bashô baixou em mim
haicai e mestre amostra
do ser e fruto
de si que desfruto
e decifro-me
aquele que não fui
deflui demite o inicio
que não terminou