Deixa a tarde ir
Deixa a tarde seguir
Seu caminho até o crepúsculo...
Que ante este ósculo oculto
Não se erga o espanto da noite.
Ah! Porque é assim a tarde
Este pedaço de tempo que se espreme
Entre a luz primeira, a treva certa
Que nem uma menina incerta
em beijar o primeiro beijo
Mulher.
Eu também sou irmão da tarde
Tão calado em minhas tristezas
Que a mais distante das belezas
É lembrança que embebeda a alma
Pelas praias azuladas da Bahia.
Eu que há tanto vago forasteiro
Faço das tardes o altar derradeiro
Das lágrimas que confesso às estrelas.
Assim é porque não nos é dado voltar
Pelo caminho das fadas
Pelos contos das Mil Noites
As princesas foram banidas
Tantos reinos a derribar
E os olhos pelos quais olhamos
Olham sem enxergar.
Deixa a tarde ir
Deixa a tarde seguir
Porque ao lado dela
Eu também vou...
Desnudo
pobre
Cansado
Embriagado de amor.