Morro do Zé Pereira
A bandidagem mandou avisar
só quem é real pode passar
assim meio sem jeito
cruzei a pinguela
o odor era pesado
amenizado pela fumaça dos baseados
empunhados como se fossem cigarros
despreocupadamente
em meio aos trabalhadores
mulecada batendo um futebol na rua
um pagode remoendo na trilha sonora
a tiazinha cantando um samba antigo
na beira do tangue
"Vou me embora deste mundo de ilusão
quem me viu sorrir não há de me ver chorar"
as roupas no varal
uma sensação de paz
a leveza que só quem nada tem pode ostentar
uma beleza de lugar
chegar
pegar
e ir embora
atravesar de volta a pinguela
rumo ao asfalto
paga o pedágio
e segue sossegado.