DISTRIBUIÇÃO

Distribuo poesia

Se quiser ganhar

Saiba, terá que sofrer

E o fogo suportar

Como Joana D’Arc na fogueira

Louca de prazer

Isto ainda é pouco

Tem que nadar sem saber

Voar sem ter asas

E coisas mirabolantes fazer

Ficar noites sem dormir

Andar sob a chuva

Olhar no meio do sol

Correr a imaginação no voo da garça

Namorar astronautas

Catar poeira de estrelas

Tem também que enlouquecer

Vale na boca do leão a cabeça colocar

Dar a mão ao trapezista

Fechar os olhos

E se lançar

Que a rede embaixo não esteja

Que é pra cair e se estatelar

Distribuo poesia

Quem quer levar

Tem que ter um coração

Bem maior do que um trem

Soprar bolinhas de sabão

E abraçar desconhecidos

Não ter medo do perigo

Pular de uma aeronave e relaxar na imensidão

Tem que mandar tudo às favas

Empunhar utópicas bandeiras

Catar ostras

Lançar facas

Lutar com moinhos

Carregar as trouxas do louco Quixote

Tem que enfrentar a ironia de Gregório

Tem que gostar de festa

E também de velório

Tudo é poesia

Até o morto esticado

Aqui receba o seu bocado

Quer a poesia, eu dou

Mas caminhe aqui, do meu lado

Vamos rir a noite inteira

Balançar na rede

Dormir na esteira

Ficar sob a goteira

E adorar lagartixas

Venha

Eu convido

E como poetas são loucos

Quando o convidado chegar, não estarei

Deixarei um recado

(Nem chore e nem chame por Deus)

De batom no espelho desenhado

Dizendo

Adeus