Ostra vez

Quando, espiã de mim, a tristeza ousa

recolho pétalas da noite suada

e confundo com lágrimas

abr’olhos sem cenas ou partos.

Deixo-me ir.

Quando o outono é fatal

e a primavera viaja desatenta

descosturo os renques do tempo

confesso o poder da reza

e de orações, um rosário terço

ponho lacre nos meus medos.

Deixo-me seguir.

Entre o dia e a noite, in_versos

segredos traço, sem pontos de fuga.

Permito-me um poema

e dou um nó na solidão.

Deito-me em tramas de fios prata

forjados na lua cheia

e na solidão do mar.

Pescador nas marés

entre_linhas

deixo-me fisgar.

Descalço as dores sem pudor

carrego nos pés velhas histórias

das memórias ostras pérolas surgem.

Quebro os fechos do silêncio

e rondo teus olhares escusos.

Iludo-me.

Raras flores perfumam

nem todas as dores acostumam

entre trovões e tempestades

uma estrela no a_mar é pérola.

Seduz-me.

Desarrumo gavetas de ninar

e sopro a fina poeira dos anseios

entre brumas e vãos dos olhos da noite

recolho o riso que ficou no ar.

Às vezes na casca

deixo-me ficar.

Às vezes no casulo

permito-me transformar!

Fátima Mota

10/03/2010