A velhice
Os meus cabelos brancos me incomodam,
já não gosto mais de mim.
Aceitar como?
Se um dia eram castanhos e ondulados.
As rugas que se multiplicam me irritam,
tiram meu sossego.
Minhas fotografias me assustam,
só em me lembrar que quando moço
eram lindas e perfeitas.
Esta transformação encurta meus dias.
Canseira em todo o corpo... Nunca tive.
Esquecimento... Nunca tive.
Não consigo aceitar minha surdez,
faço as pessoas repetirem o que falaram...
Coisa que ninguém gosta.
A velhice é portadora de insatisfações,
nela o covarde se comporta,
e o valente se amansa.
A velhice não me deixa nem subir numa árvore,
que uma vez eu tanto gostava,
ela é um entrave que tira todas as minhas energias.
Dores em todo o corpo... Nunca tive.
Na minha mocidade, carregava sessenta quilos.
Hoje para carregar dez quilos é complicado.
Chamar-me de velho é uma ofensa.
A velhice é como a árvore:
que começa a secar e descascar.
O bom mesmo é não falar da velhice.