poemas abstratos
rifar o rifle
desinflar-se defletir
as formas sem uso
usufruir-se
e no vazio completar
a nudez
da alma
não fosse a chuva
rio vertical
seria
anzol de espera e de procura
pássaro em queda livre
flor de água
não fosse a chuva
lágrima acumulada
seria
raiz de brisa
carícia sobre a cidade
lavagem de árvore
não fosse a chuva
(às vezes
agora mais ainda)
água-viva ácida corrosiva
seria
testamento da sede
testemunha da morte
do ar da liquida esperança
que tão levemente nos sustenta
confio que para sempre
nuvens:aquelas
no que vejo
no que foge
-e não é chuva-
areia entre os dedos
água entre os olhos
nuvens:estas
mesmo no chão
onde piso
onde sonho
nuvens dentro de mim
incólume
calo-me
(dois silêncios mudos
tudo e tudo
os olhares
a parede suja)
invicto
visto-me
(o espelho no escuro
o obscuro obscuro
gestos sem os outros
gestos de pro
cura)
e no ínfimo
(fogo-fátuo)
fixo-me e afago-me
até amar a faca
e beijar os dentes da revolta