poemas abstratos

rifar o rifle

desinflar-se defletir

as formas sem uso

usufruir-se

e no vazio completar

a nudez

da alma

não fosse a chuva

rio vertical

seria

anzol de espera e de procura

pássaro em queda livre

flor de água

não fosse a chuva

lágrima acumulada

seria

raiz de brisa

carícia sobre a cidade

lavagem de árvore

não fosse a chuva

(às vezes

agora mais ainda)

água-viva ácida corrosiva

seria

testamento da sede

testemunha da morte

do ar da liquida esperança

que tão levemente nos sustenta

confio que para sempre

nuvens:aquelas

no que vejo

no que foge

-e não é chuva-

areia entre os dedos

água entre os olhos

nuvens:estas

mesmo no chão

onde piso

onde sonho

nuvens dentro de mim

incólume

calo-me

(dois silêncios mudos

tudo e tudo

os olhares

a parede suja)

invicto

visto-me

(o espelho no escuro

o obscuro obscuro

gestos sem os outros

gestos de pro

cura)

e no ínfimo

(fogo-fátuo)

fixo-me e afago-me

até amar a faca

e beijar os dentes da revolta

Francisco Zebral
Enviado por Francisco Zebral em 10/04/2010
Reeditado em 30/09/2012
Código do texto: T2188159
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