CHUVA

A chuva vai lavando o meu rosto embriagado

De versos lindos

Molhados

Bebo a chuva como se fosse vinho

E me deixo entrar pelo rio

E busco o estertor poético

Sinto prazeres

Incontroláveis gozos

No troar dos trovões

Sou feliz de raios me cegarem o juízo

Leva-me água da chuva

Que eu me rendo

Carrega-me pras vagas loucas do oceano

Deixa-me rolar nas lágrimas da natureza

Quero ir ao mais fundo do mar

E se lá há um país

Eu sou marítima

Navio fundeado

Ostra quieta na areia

Cavalo marinho

E canto de sereia

Vamos, chuva, me leva e me deixa no fundo

Bem no fundo do mar

Serei um estranho animalzinho

Aceso

Iluminando o ceu das águas

Carregando os belos marinheiros

Pois todos eles quero beijar

Sou vela de jangada

Luz da alvorada

Paixão que nunca acaba

Na luz da lua

Beijando o mar

Ai, chuva, por que comigo conversas

E me dizes tudo às avessas

Do que eu queria escutar

Deixa-me

No mais fundo do leito do mar

Mas veja

O sol é meu

Todo meu

Chuva, tu podes chorar