Olhar
A luz esvaía-se nos contornos da noite, um halo de sombras prossegue o seu destino, uma lâmina do mar – ali, as casas alinhadas
aos olhos num propósito fotográfico.
Como o brilho nos teus olhos. Como se os dedos desenhassem o perfil das emoções. Como se o rosto abrisse o espelho de um lago ao vento mais longo,
a alma dos lábios em silêncio.
E nada morre sobre os ombros deitados no areal. Sempre aqui estivemos, sempre. Mesmo que não soubéssemos, mesmo que as aves fossem de outros amantes
a linha longínqua dos olhos.
Ouço a tua voz para escrever nas paredes um entendimento de cal em sílabas. Deixar nas margens brancas a intenção de um barco, o mar que vai pelo fundo dos olhos,
talvez o beijo.
Procuro as marcas para as decifrar e encontro árvores, uma blusa vestida no corpo deitado, o frio persistente que nos envolve num manto de veias. Devolvo ao anel dos teus olhos
o meu olhar.