O defunto
Fui chegando ao cemitério...
— Vi u’a triste multidão...
Meu Deus, qual será o mistério,
Dessa enorme procissão?
Bem na entrada do velório,
Colocaram um segurança...
— P’ra cuidar do território,
E evitar u’a mor lambança.
Vendo aquela confusão...
D’um sujeito tão “bacana”...
Deram logo a extrema-unção,
— Glória a Deus e à caravana!
No cortejo do defunto...
Homens tombam em seu louvor;
Venerando o Seu presunto...
— Suportando seu “olor”.
O defunto era tão rico...,
Que comprou toda a cidade...
E mandou ‘specar o lírico,
Por causa de sua deidade.
O defunto era malvado,
Não gostava de ninguém...
Mas se achava mui louvado,
Por comer — só no moquém.
Quando levavam o defunto,
Para u’a cova de granito...
Logo viram outro bestunto,
Escondido no arenito!...ºº°~
Quando olharam seu caixão,
P’ra saber o que era aquilo...
Tinha um enorme escorpião,
Que pesava quase um quilo.
O animal era grotesco,
Só se ouvia o seu chiar...
Parecia bem dantesco...
Um lacrau — de arrepiar!
O veneno do defunto... —
Conquistou o pobre animal...
Co’o ferrão — ficou bem junto,
Com’um espectro canibal.
O coitado do defunto,
Nem pode assenhorear...
O animal nem deu assunto,
Para enfim — saborear.
O defunto estava fresco...
Deram um jeito de aferrar —
Junto ao quadro pitoresco...
Mas tiveram qu’enterrar!
Quando o padre deu a bênção,
Sacudindo a água benta...,
Foi uma enorme agitação...
— Só sobrou a pobre venta!