O defunto

Fui chegando ao cemitério...

— Vi u’a triste multidão...

Meu Deus, qual será o mistério,

Dessa enorme procissão?

Bem na entrada do velório,

Colocaram um segurança...

— P’ra cuidar do território,

E evitar u’a mor lambança.

Vendo aquela confusão...

D’um sujeito tão “bacana”...

Deram logo a extrema-unção,

— Glória a Deus e à caravana!

No cortejo do defunto...

Homens tombam em seu louvor;

Venerando o Seu presunto...

— Suportando seu “olor”.

O defunto era tão rico...,

Que comprou toda a cidade...

E mandou ‘specar o lírico,

Por causa de sua deidade.

O defunto era malvado,

Não gostava de ninguém...

Mas se achava mui louvado,

Por comer — só no moquém.

Quando levavam o defunto,

Para u’a cova de granito...

Logo viram outro bestunto,

Escondido no arenito!...ºº°~

Quando olharam seu caixão,

P’ra saber o que era aquilo...

Tinha um enorme escorpião,

Que pesava quase um quilo.

O animal era grotesco,

Só se ouvia o seu chiar...

Parecia bem dantesco...

Um lacrau — de arrepiar!

O veneno do defunto... —

Conquistou o pobre animal...

Co’o ferrão — ficou bem junto,

Com’um espectro canibal.

O coitado do defunto,

Nem pode assenhorear...

O animal nem deu assunto,

Para enfim — saborear.

O defunto estava fresco...

Deram um jeito de aferrar —

Junto ao quadro pitoresco...

Mas tiveram qu’enterrar!

Quando o padre deu a bênção,

Sacudindo a água benta...,

Foi uma enorme agitação...

— Só sobrou a pobre venta!

Pacco
Enviado por Pacco em 09/04/2010
Reeditado em 07/10/2011
Código do texto: T2187374
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