poemas abruptos
axioma
penso e nisto
a confusão ilumina
o caos em quadros
amo e nela
a própria fera se adensa
florescendo em diamante
escrevo o poema
(que me escreve)
como prescrevo homeopatia
o semelhante (pro)cura o semelhante
e sempre (r)acha
condomínio fechado
entre os edifícios passa minha sombra
incomodamente
você me espia da janela mais alta
seu sorriso não me alcança
cerimônia de casamento
sua asa esquerda
pendeu sobre o músculo
seu olhar caiu lá de cima
sobre as coisas imóveis
e os homens que sorriam
estupidamente
na rua carlos gomes
viver é uma aventura à parte
eu sonho pois é isso que me cabe
e escrevo por falta de outro oficio
no final das contas apenas passo
pelas ruas com as mãos no bolso
esperando que a chuva acabe
contrariando lavoisier
geometria do encontro:
pedras paralelas ao gesto
curvas do olhar e o convexo
da genitália encaixe
de formas menos exatas
que o usufruto do espaço
uso fácil do meio
carícias redondas sólido desfeito
na assimetria dos corpos
funcionando o desejo
e as dosagens do amor
itinerário
as vozes
sobrevoam os olhares
toque
toque cada coisa
que você fala
e depois
apenas se abrace
esfinge
seco
muito seco
um sorriso se desprende
sobe ou desce?
quem é que sabe?
umidade dos olhos
fechados
cecília meirelles
mais que as palavras os olhos
as palavras que já são
os próprios olhos
e iluminam
olhos e palavras
esse afeto escuro
e solitário
maria madalena
áspera a pele
qual disfarce sincera
sua asa e curvatura
soluça na arvore
e nunca se despede
namorada
olho para seu corpo com a mesma ternura com que escrevo
suas mãos duram em mim como esta chuva
esta paz que nasce da tristeza alegremente assumida
seus olhos me sussurram carícias muito suaves
seus olhos de uma claridade tão amiga tão meiga
e meu coração fica imóvel estático
e eu não sei o que fazer come esse sorriso
com esse amor que é maior que o meu rosto