Desespero
-Cavei
Achei a vizinha
Com o filho abraçado
Não agüentei ficar ali.
-Medo,
Não tem pra onde ir.
Casas, famílias, estabelecimentos,
Histórias em decorrência.
Em cima e em baixo,
A terra vira lama.
Escorre com violência,
Arrasta aquele dia de trabalho,
Pra compra do pão.
Leva com furor o cansaço e alegria,
Da laje batida.
Corre, corre e devasta tudo e todos.
Cobertos de água ou terra,
Desesperos que levam a vida,
Que leva o cumprimento das manhãs,
Que leva as conversas do ponto de ônibus.
Aquele olhar inconformado,
A lágrima que traz a tristeza,
A ajuda acompanhada do silêncio,
Representa o sentimento unido.
A parte que mais vale,
Quando não estamos mais inseridos no padrão.
As esmolas estaduais e federais são empregadas,
Mas a dor e o nada já estão fixados.
A sujeira do barro esconde o tio,
Abafa o socorro,
Abate o choro,
E a morte terminar a dor.