ATO XIV - UM DELÍRIO BERGSONIANO, da Poética do Fingimento

ATO XIV

E nas gavetas do meu destino

guardo fantasias de não-ser,

das que eu já vestia em menino

tamanho exato do meu crescer.

Entanto, fecho as ordenadeiras

cuidando inventar outro vestir

e nu saio correndo as ladeiras

e toda minha roupa é existir.

E toda minha nudez é o calar

enquanto não mais às poesias

der a competência de expressar

a inverdade de quase-alegrias.

E se volto ao quarto do silêncio

e lembro da delicia que é cantar

as gavetas elidindo meu imenso

vazio, me tentarão a enganar.

Talvez seja meu destino esconder

em cantos (de lugares inabitados)

a eterna possibilidade de viver

o verdadeiro em engano disfarçado.

E as tais gavetas seriam só figuras

dos meus tantos disfarces de sentir.

E a imagem das roupas, iluminuras

da minha inata inépcia em me despir.

Danilo Sérgio Borges
Enviado por Danilo Sérgio Borges em 09/04/2010
Reeditado em 09/04/2010
Código do texto: T2186132