NOSSO PAÍS
Nosso país
É uma enorme planta
Que se colhe e implanta
Uma flor morte e triste
No coração de quem ainda existe.
Teve rio que, coitado de sorte, morreu de sede
Outros estão se guardando
Para a morte que vem e afoga.
A minha voz está por um fio
Escapou do fio da espada
Mas ainda teme pela volta do fuzil.
No nosso país
A sorte é quase nossa, mas não se acha
Há lenha até na fossa, mas o machado não racha
No nosso país
Há um imenso rio que atravessa uma rua
E uma mão gigante que distribui uma sorte crua.
No edifício construído de tijolo e calos
Morre sempre uma rosa amarela por falta
De um copo d´água na janela
Nosso país
Cultiva um jardim branco e cinza
Por onde escorre uma água incompreendida
Inventada na seca da vida
Vidas secas
Cada uma
Com meia alma seca
Construindo com mãos secas
Um destino seco.
Nosso país
Quase Brasil
Espera ainda que algum sonho meio louco
Sonhado por alguém que consome pouco
Abra-nos uma porta azul sem volta
E que nela caiba toda a nossa vida
Inteira e junta sem medo e sem revolta.
Nosso país
Está passando do estado de sempre querer passar
Para chegar logo a ser um grande Estado
Para nosso coração ficar em estado de graça
Sem complô e sem pirraça
Vivendo de amor e na raça
Tornando ao avesso toda e cada desgraça.