POETA MUNICIPAL

Poeta feito de homem

Meio mãos que se desfazem

Horizonte ao meio, quebradiço

Ao lançar-se janela, ao longe.

A ti é ordenado apenas o quintal

Poeta, trovador-oficial, cantador

Das belezas, dos simpáticos jardins

Obituários da velha guarda

Oráculo da geração que nasce

A ti é ordenado benzer com o seu cajado

O berço dourado e sua condenação

Ao eterno brilho nas lagunas e viscerais adulações.

Poeta, bicho das letras, operário

Que paisagem cansada, lança-te na função nobre

De eternizar a Pacha Mama que ainda útero te acolhe.

Santo, cirurgião da alma engomada humana

O vinho que te compra, nele se embriaga

E sozinho, recolhe um canto para chorar lágrimas verdadeiras.

Poeta, sábio funcional, vai ao cartório

És louvado, erigirão estátuas de ti

E sua família viverá de rações de alpiste e devoção.

Virará nome de rua, de biblioteca, asilo

E padres te abençoarão e todos louvarão sua obra.

Colocarão flores e oferendas em seu túmulo de mármore

Requisitado mágico das palavras

Confeiteiro das pontuais encomendas

Agora é tarde e todos irão embora

Viverás para sempre

E o povo cada vez mais feliz te desejará boa estada

E inebriado, procurará nas prateleiras algo seu

Obra de tua pena

Para saudar sua paga.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 08/04/2010
Código do texto: T2184317