POETA MUNICIPAL
Poeta feito de homem
Meio mãos que se desfazem
Horizonte ao meio, quebradiço
Ao lançar-se janela, ao longe.
A ti é ordenado apenas o quintal
Poeta, trovador-oficial, cantador
Das belezas, dos simpáticos jardins
Obituários da velha guarda
Oráculo da geração que nasce
A ti é ordenado benzer com o seu cajado
O berço dourado e sua condenação
Ao eterno brilho nas lagunas e viscerais adulações.
Poeta, bicho das letras, operário
Que paisagem cansada, lança-te na função nobre
De eternizar a Pacha Mama que ainda útero te acolhe.
Santo, cirurgião da alma engomada humana
O vinho que te compra, nele se embriaga
E sozinho, recolhe um canto para chorar lágrimas verdadeiras.
Poeta, sábio funcional, vai ao cartório
És louvado, erigirão estátuas de ti
E sua família viverá de rações de alpiste e devoção.
Virará nome de rua, de biblioteca, asilo
E padres te abençoarão e todos louvarão sua obra.
Colocarão flores e oferendas em seu túmulo de mármore
Requisitado mágico das palavras
Confeiteiro das pontuais encomendas
Agora é tarde e todos irão embora
Viverás para sempre
E o povo cada vez mais feliz te desejará boa estada
E inebriado, procurará nas prateleiras algo seu
Obra de tua pena
Para saudar sua paga.