A MORTE DA MORTE
A Dedé coveiro
A morte, vista por todos os lados,
Em qualquer tristeza ou regozijo,
Sabe-se lá,
Já que há aqueles que aplaudem
E contentam-se com a morte de alguém,
É traiçoeira inclusive com a traição...
... A morte
É perigosa onde não há perigo,
Um abismo onde não há penhasco,
Um medo onde não há terror, temor ou horror...
Um amor onde não há o desejo!
A morte é a mais calma de todas as vidas,
Um haver onde o nada é...
É desnatural com a própria natureza!
E será que há natureza na morte?
Talvez mais até que na própria vida!
Mil pessoas choram num velório,
Um pranto pronto para o perdão!
As lágrimas ali derramadas
E o cadáver indefeso, inerte eternamente,
Não pode ver sequer o único momento da compaixão alheia!
Ele não pode ver nem sentir
O único dia em que os vivos
Se entristeceram por sua vida!
Mesmo bendito,
É contraditório o funeral:
Único momento em que a vida é comemorada,
Único momento em que morre o carnaval!
E a vida?
A vida não é senão uma pobre esmola da morte,
Já que esta se faz eterna,
Embora não haja eternidade!