RITUAL
Lembro das Igrejas, ambientes sacro, instigante,
A ordem ornamentando por si só, espaços de regras,
Paz que vem de dentro, de fora, responsabilidade que sopra,
Respiração que se compasse, espírito que se emoldura,
Respeito que se faz pela cerimônia que os espaços impõem.
Lembro dos Índios, das aldeias, das festas, das danças,
Dos corpos pintados, dos adereços, dos ornamentos,
Do fervor aos seus deuses, nos ritos e nas crenças que emanam,
Das cerimônias, da devoção aos dogmas, na repetição dos atos,
E da espiritualidade que toma forma, que toma corpo e os corpos.
Lembro das tendas, dos terreiros, do tambor e da reza,
Do canto e do encanto que provoca e faz a alma mais leve,
Do apego aos hábitos e aos rituais, da disciplina e da ordem,
Dos aromas envolventes e das luzes veladas iluminando o tempo,
E da devoção que transpira de todos os semblantes sóbrios.
Passeia na minha mente os cultos, os cânticos e as orações,
O órgão, a música, a melodia que vaga ocupando os espaços,
A religiosidade sentida tão intensamente, vivida tão real,
Das palavras se fazendo mansas e amansando os bravos,
Dos corações sentidos no peito, na fronte, na boca, nas mãos.
Viajo pela sala pomposa, dos móveis sóbrios, elegantes,
Das velas sobre a mesa, dos castiçais, dos gestos cuidados,
Da elegância que passeia em silêncio e se mostra em etiquetas,
Da caça e do caçador, do encanto, da encantada e do encantador,
Na dança do galanteador e da dama que se deixa galantear.
Assim me deleito pelo encanto do rito, das cerimônias,
Pelo bom gosto dos hábitos, pelo juízo da crença e da fé,
Pelo respeito calado das liturgias que encantam espíritos,
Pela sabedoria da manutenção dos cultos de qualquer ordem,
E assim levito e me elevo nos rituais dos templos da vida.