UM pedaço...

Comparada à uma edição de livro nova e luxuosa

Luxo que me suja e me joga no chão

Chão que é meu palco de ingratidão

Servidão de mim mesma

Capa limpa e prefácio com linhas de esperança

Letras regadas na bonança

Pingos de diamante nas primeiras folhas que rasgo

Encontro-me no meio e pasmo

Vontade de queimá-lo

Ser a última faísca e depois ir de encontro ao livro que inspira TODAS as minhas linhas e abraçá-lo

Deitar mais uma vez, pela última vez, em seu colo

Voar e ser a lembrança de um livro que agora embolo

Quanta valorização!

Que livro que nada!

Sou apenas uma folha...

Um simples pedaço de papel

Amassado, embolado e reciclado

Rabiscado e chuviscado de mim

Ou o que sobrou, enfim

Com o peito abafado

Rosto suado

Toco meus lábios e sinto a anestesia

Se a respiração não fosse tão difícil sei bem o que faria

Correria daqui e o encontraria

Abraçaria, beijaria e à seu lado deitaria

Quieta deixando nele meu perfume

Diria sobre meu amor que inclui um pouco de ciúme

Tento não soluçar pra não incomodar aos que dormem

Fios de prata rolam em meu colo e partem a dor para enfim separá-la

É difícil quando ela se encaixa e busca repouso apenas em meu peito claro

Ah, me desculpe! Mas tê-lo tão longe é cruel e me preparo

Pra sentir um pouco de PAZ, momento raro

Vontade de pular e não sentir apenas os pés chegarem ao chão

Desejo de gritar e não ouvir minha voz

Que amarga e aguda torna minha alma atroz

Lentamente os demônios me deixam

Fica frio e não encontro o abrigo que deveria existir dentro de mim

Mas acho que está tudo certo, afinal, mereço cada parte que grita que o destino quis assim