O Muro

Sobre o muro os cacos

Cortam as veias vazias

Nada escapa do oco ser

Que escala sua dor

Em pé no muro os cacos

Fincam carnes ressecadas

Roçam ossos esfarelados

Marcando sulcos eternos

Braços abertos sobre o muro

Olhos pousados no sol de abril

Boca aberta a sugar o ar

Coração recomeça a bater

Sobre o muro não há cacos

Imaginários d'um passado

Desaparecem nuvens presente

Germinam gramas ao futuro

As dores que seriam cacos

Transfiguram flores azuis

E o ser até então cansado

Renasce criança audaz

E de um salto

Transpassa o muro

Segue em frente

Sem olhar para trás

Paula Cury
Enviado por Paula Cury em 16/08/2006
Código do texto: T218155
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