O Muro
Sobre o muro os cacos
Cortam as veias vazias
Nada escapa do oco ser
Que escala sua dor
Em pé no muro os cacos
Fincam carnes ressecadas
Roçam ossos esfarelados
Marcando sulcos eternos
Braços abertos sobre o muro
Olhos pousados no sol de abril
Boca aberta a sugar o ar
Coração recomeça a bater
Sobre o muro não há cacos
Imaginários d'um passado
Desaparecem nuvens presente
Germinam gramas ao futuro
As dores que seriam cacos
Transfiguram flores azuis
E o ser até então cansado
Renasce criança audaz
E de um salto
Transpassa o muro
Segue em frente
Sem olhar para trás