A Sala de Espera

Numa cadeira, não muito confortável,

Sento-me. Os dedos tateiam revista qualquer.

Os dedos folheiam páginas gastas, sobre a economia instável.

Os olhos atentos não param um minuto sequer.

Olham figuras de data avançada,

Olham as pernas da secretária, tão perfeitas;

Olham o relógio, que leva eternidade para dar uma passada;

Reparam as unhas da mulher ao lado, tão bem feitas.

Nenhuma notícia de anos passados me chama atenção;

As crônicas ilustram um passado que não vivi.

Desliga-se a visão, apura-se a audição:

É uma porta rangendo ou um ronco isso que ouvi ?

A mulher que folheia sobre moda descruza as pernas.

Arrisco uma olhada rápida, despercebida;

Assustam-me vozes externas,

Volto à revista já tantas vezes lida.

A secretária se levanta de sua cadeira,

(Tem tudo um ar sintético, como fosse ensaiado)

A porta abre e fecha, ajeito-me na cadeira...

A secretária sai: muda. Outro alarme falso foi dado.

Levanto-me, já sem paciência alguma.

Estico as pernas, busco água para beber.

Vejo cartazes, campanhas, avisos a quem fuma;

Sento-me em cadeira diferente, puxo outra revista para ler.

No banco em frente, à certa distância,

Um homem cochila de boca aberta.

Vejo algo que me provoca ânsia:

Uma mosca, sua boca, acerta.

Fecho os olhos, contendo o asco, com um suspiro.

Enfio a mão no bolso, tiro um papel:

Ainda falta muito; consulto o relógio, o papel confiro...

O tempo aqui dentro não passa, Deus do céu ?!

Não suporto mais o cárcere onde estou.

Não suporto mais fantasiar sobre as pernas perfeitas,

As unhas bem feitas; o relógio, há muito, parou;

As notícias sobre os fatos estão todas desfeitas.

O uníssono respiratório fica insuportável,

O farfalhar das folhas de revistas e jornais.

A cadeira, agora mais que nunca, tão desconfortável;

Juro não voltar aqui; nunca mais!

Mas não se pode resistir. Devo voltar todo mês

À esta prisão, como se dosse cobaia ou fera.

Volto sempre às pernas, revistas e o resto, o mesmo, toda vez.

Afinal, ninguém pode escapar da sala de espera.

William Guilherme Sampaio [28/03/2010]

William G Gardel
Enviado por William G Gardel em 06/04/2010
Código do texto: T2181202
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