VÔMITO

O velho e longo discurso quando gritamos

Que sofremos por amor

Nada mais é que a nossa própria traição

beijando nossos lábios...

De amor nunca se sofre...

... Apenas validar que fomos trocados

Ou que nossa simpatia foi dispensada na fossa da solidão

É o que nos dói e desperta

Nossa saudade:

E quem nos quer pouco nos importa,

O amor que não é dado a nós é o amor que amamos ao alheio

Assim o é... Simplesmente amamos o canalha

pelo simples fato de ele nos mostrar

que não somos tudo aquilo que pensamos ser!

Sem confissões, pecados, perdões

Sóbrios e nem um pouco loucos

Apenas um único motivo

nos faz perder a cabeça para amar o canalha

Ele despedaça o nosso amor:

Eles não são capazes de nos amar com o mesmo amor que temos por nós mesmos]

O nosso egoísmo é trágico e doentio: ele tem ciume da gente

E isso é um golpe fatal... um veneno letal

que atinge a pobreza e a estupidez da nossa solidão!

Meu narcisismo ecoa,

Meu corpo tem orgasmo doentio consigo mesmo!

Incrível essa descaída cruel que temos por pessoas canalhas,

A simples maldade

Que aqueles inescrupulosos têm

Em jogar nosso amor no vil esgoto

Da arrogância!

Impávido, me torno cada vez mais amargo!

Ora, não é culpa nossa! Talvez do alheio

Ou de várias e várias paranóias e neuroses

Deleitar nosso afago num escroto...

Eles têm o dom de rebaixar a mágoa Da nossa paixão

E jogar o nosso afeto na sarjeta miserável da compaixão!

Por isso adoramos amar: porquanto adoramos sofrer!

Lembro a doce menina de pele rosada

Querendo me entregar e seu sincero

E desvairado amor...

Enquanto isso, buscava eu trazer

Até mim o amor da bela mulata

Que me ignorava sem pena, nem piedade do meu sentimento!

Espanquei o amor da loira

E me joguei na ilusão amarga

Dos olhos negros da bela negra passista!

Ignorei o amor que me deram

Para ter ignorado o amor que

Entreguei à ignorância da paixão!

Não doei sentimento

Me jogando arruinado no fundo do poço do rancor...

...Fui passional com o ódio e a maldade,

Assim, deus, pesaroso,

Me olhou tristemente

E baixou a cabeça balançando-a

Para os lados,

Desprezando também o meu carinho!

Aquele que não é digno

De recompensar uma glória,

Está condenado ao desprazer de ser desprezado!

Mil desculpas,

Já é hora de vomitar:

O amor me causa tanto enjôo

Que acabo de escrever este poema

Com muita dor de barriga

Sentado no vaso sanitário

Jogando meu dejeto na ilusão da limpeza

E vendo minha urina, quente e fétida,

Escorrer como uma cachoeira poluída!

Dá licença, é necessário interromper:

O embrulho na barriga me corrói e

Embrolha minha ânsia:

Tornarei ao meu vômito

Este é o meu fiel e mais sincero amor!