SE
Se fosse pintor, pintaria o cético
E daria mais cor ao convicto.
Se fosse mais triste, seria mais poético
No sonho de filosofar com os infelizes.
Se fosse o bem, abrandaria o mal
Para pouco violentar a vida.
Se fosse jardim, falaria com as flores
E declararia meu amor à margarida.
Se fosse roseira, dispensaria os espinhos
Para não ferir os fiéis admiradores.
Se fosse o sol, brilharia em sutis recônditos
Só assim trataria com igualdade os desiguais.
Se fosse a vida, convenceria a morte
A não alimentar de vez a finitude.
Se cavalo de passada, deixaria o trote
Para dar oportunidade aos burros de nascença.
Se rio fosse, questionaria o sal do mar
Porque não me salgaria no leito doce.
Se fosse águia, a vida seria mais visível
Porque os gigantes se afirmam nas alturas.
Se beija-flor, me orgulharia da velocidade
Para ver melhor a primavera das flores.
Se fosse o medo, me aliaria à coragem
Para enfrentar, destemidamente, as agruras.
Se fosse o tempo, não inventaria as horas
Só assim não mediria a felicidade.
Se fosse a alegria, moraria na tristeza
Para amenizar dos tristes as dores.
Se fosse árvore, diria à floresta
Que os pássaros nos pousam e nos cantam em festa.
Mas... se eu fosse a boemia, amante da noite...
Ah... diria à seresta : por você, ébrio de amor !.