De um Náufrago

De um Náufrago

O medo do que vai acontecer,

                          não é maior do que o medo de não viver...

 

Se o marinheiro soubesse que é passageira a tempestade,

não lutaria com as enxárcias,

não domaria Zéfiro e Poseidon,

não se tornaria mestre na arte,

jamais chegaria a capitão.

Pois então, não é assim que a vida vige?

Ela mesma essa mítica esfinge,

sempre pronta a ser decifrada

e de nos devorar pelo caminho?

Encha o peito, seja inteiro,

pegue uma criança pela mão!

Se a beleza da rosa não trouxesse o espinho,

jamais seria signo de paixão.

E parece que é assim tudo neste mundo;

um estar sempre a alcançar uma nova expectativa,

e de esperança em esperança sempre esperar,

na confiança de que perder é alcançar,

ainda que esse prêmio seja essa vida

-esse mistério que supomos ser realizável.

Sei, porém, que enfim,

no fundo de um oceano de mim,

aquele marinheiro cansado,exausto da tempestade,

deixa-se ir pela correnteza...

Já não mais exige certeza,

já não espera posição,

a luta pela própria vida abandonou...

 

...e ao acordar nas praias da ilha deserta

tendo somente um poema na mão,

ele entendeu que a descoberta

é olhar para o Céu, sendo chão.

Danilo Sérgio Borges
Enviado por Danilo Sérgio Borges em 05/04/2010
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