De um Náufrago
De um Náufrago
O medo do que vai acontecer,
não é maior do que o medo de não viver...
Se o marinheiro soubesse que é passageira a tempestade,
não lutaria com as enxárcias,
não domaria Zéfiro e Poseidon,
não se tornaria mestre na arte,
jamais chegaria a capitão.
Pois então, não é assim que a vida vige?
Ela mesma essa mítica esfinge,
sempre pronta a ser decifrada
e de nos devorar pelo caminho?
Encha o peito, seja inteiro,
pegue uma criança pela mão!
Se a beleza da rosa não trouxesse o espinho,
jamais seria signo de paixão.
E parece que é assim tudo neste mundo;
um estar sempre a alcançar uma nova expectativa,
e de esperança em esperança sempre esperar,
na confiança de que perder é alcançar,
ainda que esse prêmio seja essa vida
-esse mistério que supomos ser realizável.
Sei, porém, que enfim,
no fundo de um oceano de mim,
aquele marinheiro cansado,exausto da tempestade,
deixa-se ir pela correnteza...
Já não mais exige certeza,
já não espera posição,
a luta pela própria vida abandonou...
...e ao acordar nas praias da ilha deserta
tendo somente um poema na mão,
ele entendeu que a descoberta
é olhar para o Céu, sendo chão.