COM MUITO CARINHO
Sempre quando a tarde se esvai,
Fico horas pensando em meu pai;
Seus olhos miúdos... como a olhar distante
O caminho percorrido pelo próprio viajante.
Não há marcas. O tempo desmanchar conseguiu,
Mas meu pai entretido teima que viu
Um homem correndo, procurando trabalho
Na construção ilusória entre areia e cascalho;
Mas em meus pensamentos mora uma saudade.
Recordo das ave-marias tocando na tarde.
Meu pai assentado na copa jantando
E a meninada na calçada tagarelando.
Depois, o presente aponta-me o dedo
Para o velho simples, sem segredo,
Trazendo consigo a vida na palma da mão.
Dentro do peito, o amor em forma de coração.
DIONÉA FRAGOSO