CINZELAÇÃO

E quando o tempo terminar de esculpir meu corpo,

Com seus martelos pesados e seus cinzéis afiados,

Dele tirando todo o excesso de vaidades e matérias,

E do corpo, enxuto de músculos e pecados, minh’alma se apartar,

Espero ser compreendido pelas dores que, sem querer, causei

E ser admirado pelas dores que sofri na calada de meu viver.

Se é que o juízo final é mesmo uma balança imparcial,

E minhas cinzas puderem ser divididas em duas partes e um peso só,

Então que uma porção seja jogada no inferno e a outra no paraíso.

Que eu possa, finalmente, descansar em paz.