ATO VII de Poética do Fingimento
ATO VII
( O ator esqueceu o texto e disse a si mesmo,
e os presentes ficaram maravilhados,
como ele conseguia representar tão fielmente,
o protagonista de tão conhecida obra, e disse assim:
Se uso esta máscara de Veneza,
em que um lado é alegria, outro é tristeza,
quem chora?
Se na mesma hora em que um sorriso
é o ponto alto do espetáculo, preciso
saber quem chora.
Pois enquanto esse lado demora,
nas suas tragédias e fantasias,
há outro lado que festeja
a mais completa alegria.
Talvez seja o mesmo peito a sentir,
que a um tempo deva chorar e no mesmo sorrir.
Talvez seja a confusão de um ator,
entre sua própria intenção e a do diretor.
Talvez tudo seja verdade, por que julgar de pronto?
Não somos capazes de no mesmo tanto,
nos perdermos em nossos labirintos?
Fechem-se as cortinas! É o que sinto!)