ATO IV de Poética do Fingimento
ATO IV
Por que me cobra essa realidade no olhar?
Por que tanta verdade sem porque?
Não é tamanha a sinceridade singular,
aquela que assume se esconder?
Não é no reino do implícito,
que moram muitas vezes nossas faces,
as mais das vezes escondidas,
por nós mesmos desapercebidas,
pela covardia do entreler?
Não é nos intervalos do que somos,
que aqueles que supomos
atores improváveis,
tornam-se aquilo que seremos?
Não é em pláteia que nos tornamos,
quando os atores que encenamos,
por caminhos impensáveis,
revelam aquilo que escondemos?
Não é amor o que em fantasias,
disfarçado em obscuras poesias,
e outras falsas palavras declamáveis,
vomita a delicadeza que sofremos?
Importa se em Cupido disfarçado,
ou num ator trágico encenado,
que ele se mostre aos insensíveis,
se é o fechar das cortinas que queremos?
Importa se é sincera essa ilusão,
de se emocionar com uma paixão
de palco e beijos secos perecíveis,
se isso é quase tudo que podemos?
Importa se é mais fingimento,
do que menos verdadeiro?