ATO IV de Poética do Fingimento

ATO IV

Por que me cobra essa realidade no olhar?

Por que tanta verdade sem porque?

Não é tamanha a sinceridade singular,

aquela que assume se esconder?

Não é no reino do implícito,

que moram muitas vezes nossas faces,

as mais das vezes escondidas,

por nós mesmos desapercebidas,

pela covardia do entreler?

Não é nos intervalos do que somos,

que aqueles que supomos

atores improváveis,

tornam-se aquilo que seremos?

Não é em pláteia que nos tornamos,

quando os atores que encenamos,

por caminhos impensáveis,

revelam aquilo que escondemos?

Não é amor o que em fantasias,

disfarçado em obscuras poesias,

e outras falsas palavras declamáveis,

vomita a delicadeza que sofremos?

Importa se em Cupido disfarçado,

ou num ator trágico encenado,

que ele se mostre aos insensíveis,

se é o fechar das cortinas que queremos?

Importa se é sincera essa ilusão,

de se emocionar com uma paixão

de palco e beijos secos perecíveis,

se isso é quase tudo que podemos?

Importa se é mais fingimento,

do que menos verdadeiro?

Danilo Sérgio Borges
Enviado por Danilo Sérgio Borges em 04/04/2010
Código do texto: T2176010