CARNAVAL
As calçadas como ruas
À beira das tantas pessoas
Que sem caminho
Perdem-se todos
Na mesma estrada
Também sem calçadas.
Rostos tapados corpos quentes
Pés descalços mesmo calçados
E a cegueira dos olhos alheios
Cobrem a nudez dos corpos
Ali no meio da estrada, sem calçadas
Na avenida alegre.
As fantasias modernas
Enfeitam de beleza e vida
A visão mesquinha dos inocentes vilões da própria vida
Enquanto os boêmios se encharcam
Achando graça até na gota que cai do seu copo
Com a missão que ele desconhece.
É alegria na avenida
Os corpos se esbarram
Uns nos outros
A euforia engole o destino daqueles
Que deixaram a sorte amarrada
Ao saírem de casa
Pena que não voltam para a desamarrar.
A vida é estreita
A alegria é tamanha
A estrada é pouca
Não tem calçadas
Os boêmios se divertem
A nudez é ignorada
Mas continuam na avenida
Sem calçadas
Presos escravizados na escuridão.