O SONHO
O sonho tal caixa d’água
Não se sabe instrumento.
Simples: impossível de suplicar exigências.
Sonho: bicho quadrado aumentando
E derramando para preservar a forma.
Sonho de feixe ameaçando acordar
Quando a carga dos olhos pesa.
Como uma mão que martela pregos
Sem entender o significado da construção.
Quadros, peças, ângulos, métricas.
Na sua estranha arte o sonho não arrebata nenhuma lei.
As cores apenas desfilam sem merecer
Os olhos pasmos do sonho.
O sonho nada mais é que uma mão
Que chora, dói por uma luva.
Dentes, pés e uma velha canção tocando.
Para o sonho a canção é desnecessária.
Bicho sem credo.
Com a cauda do medo
Faz-se senhor de um espelho mutável.
No sonho há sempre uma dimensão maior e superior
Que se alimenta dos restos
Para que o sonho fique enxuto, tal caixa d’água vazia.
- No sonho, o instante é apenas a caixa d’água.
A água é então, um suspiro imaginário do sonho.