O SONHO

O sonho tal caixa d’água

Não se sabe instrumento.

Simples: impossível de suplicar exigências.

Sonho: bicho quadrado aumentando

E derramando para preservar a forma.

Sonho de feixe ameaçando acordar

Quando a carga dos olhos pesa.

Como uma mão que martela pregos

Sem entender o significado da construção.

Quadros, peças, ângulos, métricas.

Na sua estranha arte o sonho não arrebata nenhuma lei.

As cores apenas desfilam sem merecer

Os olhos pasmos do sonho.

O sonho nada mais é que uma mão

Que chora, dói por uma luva.

Dentes, pés e uma velha canção tocando.

Para o sonho a canção é desnecessária.

Bicho sem credo.

Com a cauda do medo

Faz-se senhor de um espelho mutável.

No sonho há sempre uma dimensão maior e superior

Que se alimenta dos restos

Para que o sonho fique enxuto, tal caixa d’água vazia.

- No sonho, o instante é apenas a caixa d’água.

A água é então, um suspiro imaginário do sonho.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 01/04/2010
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