Apatia
Sois vós homem incrédulo
A quem a insipiência outorga
Leis ocas e indiferentes?
Escutastes, em segredo,
Novas e bonança,
Quimeras frutificando
Em macieiras das quais
Vos mantendes, em gesto inútil,
Abstraído à espera de
Indulgência antecipada por
Vossos pecados futuros.
O que amas, a quem amais,
Acaso, não é, em certo,
A razão de vosso amor?
Como podeis então
Resignar-se no pântano
De vontade alguma, se
Volitivo é o amor que
Aflora em vossos jardins,
Como desejo-seiva
Em vossos caules, na terra?
Quanto de vós padece
Nos espinhos dessa
Rosa melancólica?
Metade de vós, ao sol,
É sombra, a outra são
Nuvens fugidias ao meio-
Dia de um dia inteiro.
Logo que vos prostrastes
Ante a essa lâmina fria,
Vossas coronárias truncaram,
E a certeza cada vez
Mais é viva de, em vós,
Um enfarto da razão,
Da coragem e do risco,
Tornando-vos homem,
Um músculo indolente
E enrijecido.