UMA VAGINA BASTA

Queria entender essa minha triste doce sina

De ser súdito das mulheres!

Elas são tão crueis, nada submissas!

Porque tanta escravidão?

Escravo do pecado e da esperança

Sem nenhum perdão,

Com flagelo eterno

Esfacelando-se a face no solado imundo

Do bojo humano!

Elas, cuspindo-nos da vagina

Sem nenhum pudor... cólicas dilacerando o ventre...

Nos jogando ilesos, mas indefesos

No calabouço da carne e do osso!

Nosso pai,

Imbecil e sem escrúpulos,

Goza, jorra seu esperma

Num útero solitário,

Fraco e desarmado!

Agora, numa esquina suja,

Está ele no boteco indecente, obsceno...

Obcecando a embriaguez,

Fumando um cigarro fedorento...

... Acha que um salário, um pacote de leite

E uma sacola de pães é o suficiente

Pra felicidade... mas, como costumam

Comparar a felicidade à droga... tudo bem,

Há conformidade com a estupidez!

Porque escravizar-se nos seios?

Simples, por mais sensível e gentil que seja o homem,

Seu beijo carrega a baba da hipocrisia,

Sua saliva tem dentes afiados

Com o carinho mordendo a paixão... doentia, sombria...

Covarde subversão de todo o desejo!

Já assim, jamais... por mais

Que seja cruel e fingido,

O escárnio de uma mulher,

Afaga, joga-nos ao belprazer do prazer:

Um orgasmo ou mesmo uma solidão banhando-se

Deitada na profundeza das lágrimas...

O caminho entre a glória e o desprezo,

Mora sozinho entre o abismo do nada

E o túmulo gelado do infinito...

... É triunfal a passarela do ódio,

O destino do desprezo repugnante,

A vereda do rancor...

Uma estrada sem volta:

Nada mais sincero e sem remorso!