INTERCONDIÇÃO

Enquanto meu corpo insiste em ser existencial

Minha alma conspira contra a caixa de leis do universo.

(Minha alma nem concebe a idéia de universo.

Há um universo de universos).

Estou repousado na teoria da não-percepção

Dos seres como seres.

São meio circunstanciais. Cada qual mais ainda.

Há uma dor inserida onde não há espaço para se doer.

Há um sentimento que não se importa

Nem com o fato de não ser sentido.

Minha alma enxerga no escuro. Constrói até.

Porém, não identifica outras almas.

Meu olhar silenciador afasta qualquer possibilidade.

Estou preso no mundo, mas sou um preso e não um prisioneiro.

Estou preso no mundo, mas minha prisão é opcional.

Estou preso no mundo, mas há vários mundos presos

Na minha ânsia-libertação.

Estou preso no mundo, mas não estou preso ao mundo.

Estou preso no mundo, mas não estou preso a um mundo.

Meus relógios interpretam o tempo,

Não somente o traduzem.

Por isso não estou preso no tempo.

Minha alma não resiste a uma forma turra de silêncio.

Mas minha alma tem medo de lançar o primeiro grito.

Na verdade, o silêncio é uma forma de comunicação,

Só que interativa e nunca absoluta.

Sou um repassante da vida. Há vários caminhos,

Mas a minha direção permanece indiferente a todos eles.

Independo de modelos.

Às vezes, conspiro contra as fórmulas.

A minha forma de conspirar, no entanto, é silenciosa.

Vejo o mundo passando numa velocidade ordinária.

Alguns de seus componentes se adiantam, outros atrasam.

Mas todos têm um encontro marcado para o mesmo horário.

Cada qual participa do tempo, mas quase não se alteram.

Simplesmente se adaptam para que se regule

A velocidade predominante:

A velocidade das coisas.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 31/03/2010
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