CIDADE GRANDE
Vida corrida
Contada por segundos
Segundos que
Valem ouro
Que valem sangue
Que valem vidas.
Vida rápida
Apressada em
Não fazer nada
Ou fazer e desmanchar
Só por desmanchar
Só por prazer.
Vida de cidade grande
Pequena vida
Contada no relógio
Escorregada a cada carreira
Para pegar o ônibus
Caída a cada
Suor derretido
Pelo sol da cidade
Cidade grande.
Vida mecânica
Homem que parece máquina
Homem que tem
Que correr mais rápido
Que o seu irmão
Para vencê-lo
Pois se chegar depois
É ele quem passa fome.
Vida de cidade grande
Enorme cidade
Pequena vida
Corrida, esmagada pelo tempo
Que corre sem freios.
Vida difícil
De ser vivida
Correndo contra tudo
Contra o tempo
Contra o destino
Contra a vida
Contra a morte
Contra si mesma.
Vida desumana
Disputada a meio
Com o tempo
E só dividida
Depois do expediente.
Vida triste
Vazia vida
Da cidade grande
Com tantas ruas
Com tantas ruas
Com tanta gente
Com tanta fome
Com o tempo
Atropelando tudo
Atropelando a vida
Atropelando a vida
Atropelando os homens
E os homens
Atropelando a si próprios
Para chegar do outro lado da rua
Da enorme rua
Da cidade grande.
**POema escrito em 1999 e publicadado na coletânea do III Concurso Kelkps de Poesia Falada.