CIDADE GRANDE

Vida corrida

Contada por segundos

Segundos que

Valem ouro

Que valem sangue

Que valem vidas.

Vida rápida

Apressada em

Não fazer nada

Ou fazer e desmanchar

Só por desmanchar

Só por prazer.

Vida de cidade grande

Pequena vida

Contada no relógio

Escorregada a cada carreira

Para pegar o ônibus

Caída a cada

Suor derretido

Pelo sol da cidade

Cidade grande.

Vida mecânica

Homem que parece máquina

Homem que tem

Que correr mais rápido

Que o seu irmão

Para vencê-lo

Pois se chegar depois

É ele quem passa fome.

Vida de cidade grande

Enorme cidade

Pequena vida

Corrida, esmagada pelo tempo

Que corre sem freios.

Vida difícil

De ser vivida

Correndo contra tudo

Contra o tempo

Contra o destino

Contra a vida

Contra a morte

Contra si mesma.

Vida desumana

Disputada a meio

Com o tempo

E só dividida

Depois do expediente.

Vida triste

Vazia vida

Da cidade grande

Com tantas ruas

Com tantas ruas

Com tanta gente

Com tanta fome

Com o tempo

Atropelando tudo

Atropelando a vida

Atropelando a vida

Atropelando os homens

E os homens

Atropelando a si próprios

Para chegar do outro lado da rua

Da enorme rua

Da cidade grande.

**POema escrito em 1999 e publicadado na coletânea do III Concurso Kelkps de Poesia Falada.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 29/03/2010
Código do texto: T2166034