RECONCEITO

Quero a partir de agora observar o mundo

Sem a rigidez macro de quem julga.

Olharei o mundo de dentro da cabine

De uma espaçonave construída por meninos.

Não precisarei mais mastigar a fadiga

Da perfeição inquietante do coração-relógio.

Meus minutos passarão inventando novos minutos.

Vou partir num travo sutil de esperança

E me redimir numa enciclopédica e milagrosa coincidência.

Meus olhos ao invés de medirem a paisagem,

Desinventarão as cercas para o correr livre

Da descompromissada avidez de sonhar.

Quero aprender a sentir a anti-cética ilusão de primavera

Em todas as insinuações de estação.

Vou descortinar a manhã com um grito sem cálculos

E repousar como um manso atrevimento de onda do mar.

Meu coração abrirá suas duas portas

E não colocará vigias nem chaves.

Minha ambição será não destruir a passagem,

Para que por ela passem os meus irmãos.

Dentro de um sonho sem rudimentos

Empinarei-me no sonho mais infantil de um menino

Para reperceber a pureza da vida.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 29/03/2010
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