RECONCEITO
Quero a partir de agora observar o mundo
Sem a rigidez macro de quem julga.
Olharei o mundo de dentro da cabine
De uma espaçonave construída por meninos.
Não precisarei mais mastigar a fadiga
Da perfeição inquietante do coração-relógio.
Meus minutos passarão inventando novos minutos.
Vou partir num travo sutil de esperança
E me redimir numa enciclopédica e milagrosa coincidência.
Meus olhos ao invés de medirem a paisagem,
Desinventarão as cercas para o correr livre
Da descompromissada avidez de sonhar.
Quero aprender a sentir a anti-cética ilusão de primavera
Em todas as insinuações de estação.
Vou descortinar a manhã com um grito sem cálculos
E repousar como um manso atrevimento de onda do mar.
Meu coração abrirá suas duas portas
E não colocará vigias nem chaves.
Minha ambição será não destruir a passagem,
Para que por ela passem os meus irmãos.
Dentro de um sonho sem rudimentos
Empinarei-me no sonho mais infantil de um menino
Para reperceber a pureza da vida.