O VENTO DE AMANHÃ DE MANHÃ
O VENTO DE AMANHÃ DE MANHÃ
A soprar a Amargura do Poeta
Sylvio Neto
“ A noite existia em mim escura e vazia
Tornando teso meu riso
Tenso meu olhar vazio e insone”
(S. Neto)
“ A noite era- tantas- e apenas uma
Talvez fosse mesmo nenhuma(...)”
(S. Neto)
(O POETA AMARGURADO, BUSCANDO OUTRAR-SE NO NÃO SER POETA)
È com a luxúria poderosa dos imperadores
Que contrario as forças, sinergias gigantes,
Cíclicas e pontuais da natureza
Com a ordem:
- Que jamais se ponha o sol, pois que, o dia jamais será noite
È na noite que me perco poeta, andante, perdido
Vampiro a caçar letras, a soletras palavras, a suspirar frases...
É na noite, em reuniões soturnas que o poder se instala
Ocupando a mente de quem não quer nada de bom para o mundo
É durante a noite que se deleitam eles na cafagestagem dos planos
Na divisão da pizza, na construção da vil sacanagem
- Ei, ei...Ei poeta!
(INTERVEM ALGUÉM LÁ DENTRO DE MIM)
-Sem poesia podemos viver, não serve mesmo – ela – para nada
Mas, péra ahê! Do por do sol não abro mão.
- Saiba você voz, pensamento, sei lá o que ou quem
que me invade a hora, que me perturba no calor das minhas ordens
que não sou Raul Seixas e jamais desdigo o que já dissera antes
“ A menos que a palavra empenhada me seja prejudicial” – È como me ensinou Machiavelle...Foi o que matou Menelau
e indo além vos digo: Que mato o poeta para impedir que avance o sahel
político, ardente, conspirador e profano
que invade meu mundo, meu país, meu bairro
- Mas, é no início do crepúsculo matutino náutico
que se desprendem os corpos amantes
que se despedem os amores
e em seu turbilhão de cores
a poesia da vida
se atira em mais um dia
que é o poder que temos de viver a vida
- Esqueça o mel podre voz
que me aparece em mim
nascida sei lá de que lugar
parida sei lá por qual energia
Que perturba minhas falas, ordens
Que me incita o poeta em descanso
E contra minhas ordens vem conspirar
Arrebata-te de mim, eu ordeno!
Descanse lá com Augusto e com os Anjos:
- Siga na noumenalidade do não ser, sombra vampira
“ que se faça o dia com o poder da luz, que possa o homem, deleitar-se em regozijo
com o crepúsculo matutino do novo eterno dia. E que pereça com a saudade do ocaso
lindo, do sol se esvaindo em saudade a descer quase dormindo...Por detrás dos prédios da cidade, a esconder-se em uma quase verdade atrás dos montes, serras e horizonte...Do dia que foi ontem.
Que suspirem os homens de boa vontade e as mulheres mesmo as feias que ninguém é perfeito, com a beleza, saudosa, que imprime o ocaso...
Que guarde dentro de si esse momento movimento
...E se contente com a saudade, pois assim vozes de conspiração, como a sua, jamais invadirão qualquer momento...E a vontade de ver novamente a natureza em seu poder pleno, fará o homem endireitar seus passos.
- Mas, mas – sem noite, não haverá amanhã...sem amanhã...Morrerá a esperança e com ela a fé...
O que prometer, dizer – a cada criança?
Pense poeta, que há derrota em sua ditadura
Pois que, com o amanhã vem a bonança
Que leva a putrefação do homem vil
O amanhã vem trazendo o dia
Na beleza perfeita da manhã
No descanso preciso da noite
Não há paz na ditadura do dia
- Por que te levanta em protesto
Contra a mordaça que calo minha poesia
Para impor a ditadura do dia
E impedir que as moscas reunidas em volta da lâmpada
Tracem à surdina
O futuro de merda e imperialista
Que afoga e se perde na interminável lista
De males de campanha
Na guerra covarde que em nefasta aliança
Os poderosos calam, queimam, arrebatam e matam
A esperança?
- Por que poeta? Porque não se pode querer
Fazer o bem
Com o mal
Não se pode contrariar a esperança de um novo dia
...Não devemos trair a mãe
e a mãe está diluída na natureza
contrariá-la
é impedir a beleza
é pesar a leveza que está contida no sonho
é criar Bellorofonte medonho
a derrotar sem pena Quimera
É adormecer sob os gritos de Pan
É adoecer com vermes que fogem ‘a caixa de Pandora
Vem !!!
Beba um copo
Que assim sua boa inspiração não demora
Que nosso deus querido Dionísio
Acaricia-lhe a cara
E o vento da manhã de amanhã de manhã
Lavará-lhe o rosto
Poeta amigo