Bilhete Incendiário

Bilhete Incendiário

"Apenas os mortos permanecem com dezessete anos".

(Haruki Murakami)

Fumo o meu cigarro como se traga a vida,

Envolto em seu papel e cinzas

Que condensam a alma e alguma coisa Maior.

Fumo o meu cigarro e ascendo por inteiro

E queimo-me de dentro para fora em brasas

mornas-e-azuis; Deitado não conheço a dor,

Mas reconheço a canção que toca ao longe

Esquecendo-me de um dia me ter chamado Eu.

Sem nada na mente como Brecht, ou Maria, ou Fumaça,

Despeço-me das tardes e dos trens,

Que imóveis cortam o centro da cidade.

II

Me levanto e vou sem direção

À Lugar-Nenhum permaneço no mesmo instante

E me nego (como sempre) da mesma agitação.

Das moléculas incita-se o estranhamento,

Que fogo, torna-se qualquer coisa como Vida

E os Mortos tem os cinco elementos cravados

em comunhão.

Não, não me apego a Nada

Se não à evaporação deste cigarro,

Lembrança quente-e-fria chamada Não-Saber.

R Duccini
Enviado por R Duccini em 28/03/2010
Reeditado em 28/03/2010
Código do texto: T2163501