Bilhete Incendiário
Bilhete Incendiário
"Apenas os mortos permanecem com dezessete anos".
(Haruki Murakami)
Fumo o meu cigarro como se traga a vida,
Envolto em seu papel e cinzas
Que condensam a alma e alguma coisa Maior.
Fumo o meu cigarro e ascendo por inteiro
E queimo-me de dentro para fora em brasas
mornas-e-azuis; Deitado não conheço a dor,
Mas reconheço a canção que toca ao longe
Esquecendo-me de um dia me ter chamado Eu.
Sem nada na mente como Brecht, ou Maria, ou Fumaça,
Despeço-me das tardes e dos trens,
Que imóveis cortam o centro da cidade.
II
Me levanto e vou sem direção
À Lugar-Nenhum permaneço no mesmo instante
E me nego (como sempre) da mesma agitação.
Das moléculas incita-se o estranhamento,
Que fogo, torna-se qualquer coisa como Vida
E os Mortos tem os cinco elementos cravados
em comunhão.
Não, não me apego a Nada
Se não à evaporação deste cigarro,
Lembrança quente-e-fria chamada Não-Saber.