AREIA

Ó tempo!borboleta feia e bêbada!

Antes a lagarta insegura,lenta,

Que tua falsa divindade que carregas nas asas!

Velha máquina voadora

A assediar flores coercitivas!

Foge dela ó pássaro inseptívoro!

Foge,grávido de ti!

De dentro ouço vozes,

Ruflar de asas,

Mulher reclama de novo,

De novo,amanhã,de novo.

Não me movo,

Fixando o olhar sobre teu falso movimento,

Ó tempo!

Entra o jornal,

Um crime bárbaro,

Novela policial,

Aumento o som.

No teu encalço

Um cão ladra,

Vozes abafadas,

Te vejo subindo a escada

Ó tempo!

Te vejo engolindo o pássaro

E,saciado,

Dormindo um milionésimo de segundo.

Não tens poder sobre a memória ó tempo,

Não neste céu argênteo de estrelas opacas!

Minha cidade vista do alto,

A noventa e cinco graus,

Revela uma antiga Jerusalém.

Daqui o enorme templo,

Algumas pegadas,

Luzes amarelas e brancas

Feito lamparinas.

Não pode levar aquilo que não possui

Ó tempo!

O trem de março atropela na curva

Fevereiro,

Chapéus,máscaras e serpentinas,

Tudo sai pelos ares.

Às duas horas e trinta e cinco minutos e quarenta e oito segundos,

Exatamente,

Tudo muda!

No teu interior,tempo oblíquo,há o silêncio da espera.

Me lembro das missas na capela,

Procissões e velas.

Me lembro do calor da noite,

Homens com chapéu na mão,

Mulheres entoando rezas...

De verdade,

Eu me lembro de tudo isso

Porque todos estavam vivos.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 26/03/2010
Código do texto: T2161007
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