AREIA
Ó tempo!borboleta feia e bêbada!
Antes a lagarta insegura,lenta,
Que tua falsa divindade que carregas nas asas!
Velha máquina voadora
A assediar flores coercitivas!
Foge dela ó pássaro inseptívoro!
Foge,grávido de ti!
De dentro ouço vozes,
Ruflar de asas,
Mulher reclama de novo,
De novo,amanhã,de novo.
Não me movo,
Fixando o olhar sobre teu falso movimento,
Ó tempo!
Entra o jornal,
Um crime bárbaro,
Novela policial,
Aumento o som.
No teu encalço
Um cão ladra,
Vozes abafadas,
Te vejo subindo a escada
Ó tempo!
Te vejo engolindo o pássaro
E,saciado,
Dormindo um milionésimo de segundo.
Não tens poder sobre a memória ó tempo,
Não neste céu argênteo de estrelas opacas!
Minha cidade vista do alto,
A noventa e cinco graus,
Revela uma antiga Jerusalém.
Daqui o enorme templo,
Algumas pegadas,
Luzes amarelas e brancas
Feito lamparinas.
Não pode levar aquilo que não possui
Ó tempo!
O trem de março atropela na curva
Fevereiro,
Chapéus,máscaras e serpentinas,
Tudo sai pelos ares.
Às duas horas e trinta e cinco minutos e quarenta e oito segundos,
Exatamente,
Tudo muda!
No teu interior,tempo oblíquo,há o silêncio da espera.
Me lembro das missas na capela,
Procissões e velas.
Me lembro do calor da noite,
Homens com chapéu na mão,
Mulheres entoando rezas...
De verdade,
Eu me lembro de tudo isso
Porque todos estavam vivos.