FOME
A faca corta ao meio o assunto.
Na superfície da mesa
Quatro olhos celebram a esperança
Nasce um herói a cada semana.
A cabeça encolhe
Mas os olhos sonham com o McDonald´s.
A fome aposta na didática.
A realidade aposta no futebol.
A vida se disfarça de bailarina.
O destino risca um mapa.
O estômago maratoneia uma ginástica.
A dinastia do sonho esquece-se
Do domingo ao meio-dia.
Na janela do quarto uma oração.
Nos lábios um concerto triste
Lembrando uma anticanção.
No rádio a alegria convence.
A feira se disfarça de espera
E dança um xote-tango americano.
Na TV o show disfarça o momento.
No calendário uma conspiração.
No repouso dos olhos uma vingança.
Na dor um sorriso interrompe o ritual.
Na sina um sol interrompe a realidade.
A paisagem do quadro pendurado na parede
Parece mais bela pela manhã.