[O Galope do Medo]

Noite, chuvarão pesado...

Desligo o celular, abro a geladeira;

Ah... esse cheiro do figo maduro

traz-me a opressão aquele medo!

Fecho os olhos e...

Noite escura, chuva pesada;

as águas vindas da invernada

adentram o quintal da fazenda...

Voragem tenebrosa; árvores gementes;

asas negras de morcegos triscantes;

moita de bambus a espoucar no vento brabo;

e o enorme pé de figo à beira do rego-d'água

— será que resiste ao aguão doido?

Escuridão... animais sem abrigo;

bate solta a porteira do curral do paiol

que alguém esqueceu de tramelar;

as goteiras infernais pela casa;

dançam loucas as chamas das lamparinas;

estrondo de águas brabas no escurão da noite!

Ah, o medo, o medo... o medo!

No outro dia, pelo chão lavado,

os figos esmagados...

Coisas que me viajam no aroma

deste figo — eu aqui, longe, longe,

morrendo feito um cão desnorteado,

ovo rolado p’ra fora do ninho,

eu — longe da madre que me gerou!

No fragor do chuvarão noturno,

o medo vem a cavalo, e galopa

no cheiro deste figo maduro,

doce, doce... e de novo,

aquela opressão sufocante

da voragem escura das águas!

[Penas do Desterro, 25 de março de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 25/03/2010
Reeditado em 22/04/2012
Código do texto: T2158548
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