Paradeiro

Estou num ponto livre;

É entre o sim e o nada que me encontro,

No delicioso e frágil limiar que faz doer no peito

Um calor ardido que se gruda nas narinas

E pula pra fora do corpo, como que expulso.

E é como gente que vomito o opulento doce do prosaico,

E abnego e abdico do comum, da norma, do regimento burro

Que orquestra os naipes da vida, como um todo – como um nada.

Da consuetudinária, me livro também, e do livro

Me livro.

Estou num ponto-nulo;

É entre o tudo e o não que eu me encontro,

E o paradeiro eu sei, mas não me acho,

Como se por sub-repção me houvessem arrancado

A autoconsciência,

E me houvessem lançado no lugar-comum,

Num lugar-comum, qualquer lugar onde possa haver

Um céu para não ver, um chão para pisar e correntes a me prender

À terra.

Estou num ponto-parágrafo;

É como ter firmado um quase-contrato com uma ignorância quase-consciente

Para se manter em mesmo estado

Em simples-tato, status quo

Cego de olhar e de pensar

Surdo de ouvir e de pensar

Morto de viver e de pensar.

E houvesse uma barreira entre o medíocre e o refinado,

Intransponível;

Inexorável!

Uma inevitabilidade tola

Anti-contumácia, anti-persistência

Anti-existência.

Estou num ponto que não é final.

Onde não há conserto, nem erros

É feito um vazio imenso que engole o tempo

E que eu movimento por dentro de mim

Como fazendo pouco de mim mesmo,

E é entre o mais perdido e mais abstruso, que encontro metade de mim

E rolo insone pela incontestável hemicrania

Justificada pelo seu próprio sentido.

Só sou metade de gente.

Só estou metade de algo.

Estou num ponto, onde não há ponto.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 24/03/2010
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