O ESPELHO
Há o espelho das coisas
No voo rasante dos seres.
A luz de um reflexo
O oculta de cair.
Espelho. Espelhos para
Olhar para trás,
Sob o céu do mundo,
Ver as mais simples criaturas
Movendo cada qual
Seu pedaço de existência.
Há o espelho para
Se mirar inocente e culpado.
Para as cenas de perdão esgotado,
Há o espelho frio, gelado, mudo,
Com um silêncio estampado,
Destacado num calo de arrependimento.
No mundo à noite,
Sem a luz da clarividência,
Sem o espanto dos viventes,
Há o espelho da luz
Que faz enxergar o bom e o mau.
Pouso de emboscada no véu da consciência.
Quem terá a chave?
Fechado assim mesmo,
Há o espelho
Que corrói as lembranças,
Congelando-as para julgamento.
Existe a esperança nos campos dourados
Da face humana.
Ali também há o espelho.
Um espelho para todas as pessoas.
Cada coisa de olhando,
A visão é desnecessária neste momento,
Pois vigora a lei do espelho.
Qual que sendo cego,
Não se enxerga?
Pois sim, no mais distante olho,
Aquele que passeia nos olhos,
Nele há o reflexo de uma sombra,
Persiste o espelho na alma.
É calculista, telepático,
Vê todas as coisas do mundo,
Porque o pensamento é uma dança
Que acaba refletida e traduzida
Para todos os modelos de matérias.
Não há a beleza estática.
Não há a feiúra desnutrida.
Há sim, o espelho da verdade,
De cada um em atos de proporção.
O olho nos olhos.
Lá fora há o mundo,
refletido e espelhaçado.