NÃO SOU INTEIRO!

Não sou inteiro! Sou diversos fragmentos de mim mesmo (“eus”)

Que se digladiam interiormente impondo a minha pessoa

Limites, nos sonhos, nos desejos e nos prazeres e dando-me respostas

Claras dos caminhos que eu posso seguir

Na labuta diária em busca das minhas verdades e ações íntimas e sociais.

Quando eu escrevo não penso e não passo um cânone

De idéias prontas, batidas, retilíneas e de auto-ajuda.

Porque -- escrever -- para mim, é destituir-me e ser ao mesmo tempo os vários "eus"

Perdidos e equilibrados nos sonhos, nos pensamentos, nas idéias, nas utopias,

Nos desejos, nas ações almejadas e nos prazeres realizados.

Um poema, penso ser a validação da palavra como instrumento de vida;

De inconformismo; de certeza que estamos (no poema) nos encontrando com Deus

E com nossa intimidade mais latente e ávida por dizer algo.

A poesia, para mim, é uma ação d'alma e espírito dum eu-lírico quando explode as suas vidas.

Porém, essas vidas são os “eus” aflorados quando o poeta é poesia.

Ser poeta, creio eu, não é coletar um grupo de pressupostos prontos

Arrecadados nas boas intenções e/ou conhecimentos e juntá-los em versos.

Ser poeta é desvencilhar-se da boa conduta, do bom-moço,

Do inútil prazer de agradar a maioria dos leitores. Um poema, tendo apenas um leitor,

Que o sinta pulsar na veia, n'alma e no coração já terá seu resultado referendado pela vida.

Inteiro só Deus! A cada um de nós cabem os diversos fragmentos perdidos

Que são socialmente reféns das mais diversas leis, preconceitos e tabus

Que o ser social cria e recria diuturnamente no seu convívio com outros homens.

Tenho certeza que não existe coração, apenas, na poesia. Existe sim muita dualidade

E luta interior entre o querer e o poder e entre a necessidade e a realidade.

Só torna-se poeta, penso eu, quem for irmão da indignação e do desnudar-se silencioso...

A vida é um sentimento concomitante de dor e de alegria, de guerra e de paz, de ódio e de amor,

De poesia e de caos, de sonho e de pesadelo, de voz e de silêncio, etc.

O Poema e o poeta estão perdidos na sua própria indefinição contínua e imortal.

Só é poesia, para mim, o que for mutante e não é necessário caminhar um passo sequer para tê-la.

Na vida vai quem quer e para onde quiser. O homem pode ir ou ficar.

E pouco importa se o poeta fica a contemplar estrelas ou a imaginar o futuro ou a sofrer pelo passado;

Se resolve amar alguém lhe dando apenas 30% ou 70% de carinho.

Não se mede a vida de ninguém pelas ações realizadas, plenas de doação, e sim pelos sentimentos

Que apontam no ser a sua verdadeira essência, vontade, prazer e coerência entre a palavra e o ato.

O eu-lírico que se apresenta refém das regras estabelecidas; que escreve pensando em ajudar o outro;

Que caminha porque dizem que não é possível viver de brisa, de divagação, de nada

Nem sempre se faz coerente e completo. Certamente -- a vida -- não é uma simples medida

E sim: sonho, utopia, liberdade, indignação e prazeres... E o verdadeiro

Poeta (creio eu) é aquele que comove sem precisar convencer ninguém...

Alexandre Tambelli
Enviado por Alexandre Tambelli em 13/08/2006
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