Um dia de primavera

Um dia de primavera

O sol afaga os montes

sossega o vento e mastiga o orvalho.

A primavera estala nas folhas das árvores

que se desenrolam em comprometida gratidão

e ressuscitam a esperança dos frutos.

Os pássaros, as borboletas e as flores estão aí

num reencontro combinado

num desassossego contagiante

numa provocação continua ao silêncio

num gritar de violinos em orquestra triunfante.

A primavera veio, inevitável, mas em trânsito

com passaporte carimbado.

doridamente fico na plateia

entre a contemplação e as palmas.

Comungo a esperança duma primavera

sem agendas nem calendários

com povos por inventar, galáxias por desvendar.

inventada no trapézio dos dias

a todas as horas.

Primaveras por arrancar, por suar, por cantar

mas às vezes é mais fácil anestesiar a esperança.

Depois de esculpir este poema bucólico

apetecia-me atá-lo à cintura de cada arvore, cada flor.

Depois demitir os deuses; e convocar os homens

a denunciar as preces, os pulpitos, os templos

a vertigem da submissão

as passadeiras do medo

a glória dos auto eleitos

luis martins
Enviado por luis martins em 21/03/2010
Código do texto: T2151532