Um dia de primavera
Um dia de primavera
O sol afaga os montes
sossega o vento e mastiga o orvalho.
A primavera estala nas folhas das árvores
que se desenrolam em comprometida gratidão
e ressuscitam a esperança dos frutos.
Os pássaros, as borboletas e as flores estão aí
num reencontro combinado
num desassossego contagiante
numa provocação continua ao silêncio
num gritar de violinos em orquestra triunfante.
A primavera veio, inevitável, mas em trânsito
com passaporte carimbado.
doridamente fico na plateia
entre a contemplação e as palmas.
Comungo a esperança duma primavera
sem agendas nem calendários
com povos por inventar, galáxias por desvendar.
inventada no trapézio dos dias
a todas as horas.
Primaveras por arrancar, por suar, por cantar
mas às vezes é mais fácil anestesiar a esperança.
Depois de esculpir este poema bucólico
apetecia-me atá-lo à cintura de cada arvore, cada flor.
Depois demitir os deuses; e convocar os homens
a denunciar as preces, os pulpitos, os templos
a vertigem da submissão
as passadeiras do medo
a glória dos auto eleitos