Araxá
Hoje acordei com uma mistura
de há muito tempo e era uma vez.
A boca com um sabor de estória,
os olhos deslumbrados de emoção,
pela recordação de doces momentos de outrora.
Lembranças com sabor de leite com café
e pão de queijo de Minas.
Aroma de minha casa de infância,
com seu quintal largo
e o jardim de grama plantada.
Saudade da coceirinha que se sentia
por todo o corpo, após rolar pelo gramado.
Frio do álcool com arnica
que aplicavam na gente,
quando éramos vitimados pelas formigas.
Guerras contra as formigas!...
Nostalgia das manhãs de brisas cortantes
e das tardes de ventos mornos.
Das viagens pelos caminhos tortos,
abertos no meio das serras.
Do orvalho que colhíamos toda aurora
de sobre a lataria do carro.
Lembrança das gentes da vida antiga:
os colegas de escola, os professores,
os vizinhos, os primos.
As missas dominicais, degustadas
junto com a imagem do desjejum
que aguardava em casa.
A rodoviária nova-velha,
que tantas vezes assistiu à minha partida
e sorriu-me ao regresso.
As pracinhas pelas quais passeávamos
nas tardes de fins de semana,
com suas inseparáveis sorveterias
(oferecendo um pouco do paladar da cidade).
As trilhas tão conhecidas,
pelas quais hoje eu me perco,
errante que ando, como a me reconciliar
com uma parte de mim que, um dia,
deixei para trás.
Perambulo por minha colorida cidade,
rememorando lugares e pessoas,
sem os precisar ver: que todos circulam em mim!
Sem os poder ver: que os olhos molhados
distorcem as imagens!
Sem os querer ver: com medo de dali não querer
sair nunca mais!