Dia de sol
Mais um dia de sol abrasador,
castigando os sertões paulistas.
Mais uma manhão e uma tarde
de rostos suados e vermelhos,
de roupas molhadas do suor e da chuva
que cairá fatalmente e arruinará o crepúsculo.
Mais um dia de sol inclemente,
assolando o sertão nordestino.
Mais uma jornada
de rostos tristes e duros,
de pés e solo rachados,
de vegetação e estômagos murchos.
Mais um aurorescer de sol tímido,
tentando abrir espaço entre os montes de neve
[antelucanos
que cobrem as estepes bárbaras da Rússia.
Mais um dia de protestos, de marchas,
de tiros e tiranos,
de sonhos e desenganos.
Mais um alvorecer em Nova Iorque.
Somente isso, que os ocupados habitantes
não têm tempo de reparar no sol.
Mais um amanhecer em Buenos Aires.
Sol e lua, tendo oportunidade de se encontrar,
um altivo e a outra orgulhosa,
dançam um tango nos céus argentinos,
para deslumbramento das planícies
cortadas por rios de prata.
Mais uma vez, os raios de sol mergulham
na antigüidade do Mediterrâneo,
juntando seu brilho ao das pioneiras civilizações,
somando seu calor ao das crateras do Etna
e do Vesúvio, favorecendo um dia turístico
nas ilhas gregas.
Ainda uma vez, o sol se apressa
sobre a África.
Mas será mesmo o sol
ou são fogos bélicos?
Avassalador o sol se sorri,
sobre as savanas africanas
dos reis depostos.
No centro do sistema,
o sol nasce para mais um dia,
produzindo e exportando luz
e calor sem saber para quê.
Consumindo-se em suas própria chamas,
até que se esgote a energia
da última fusão atômica.