Dia de sol

Mais um dia de sol abrasador,

castigando os sertões paulistas.

Mais uma manhão e uma tarde

de rostos suados e vermelhos,

de roupas molhadas do suor e da chuva

que cairá fatalmente e arruinará o crepúsculo.

Mais um dia de sol inclemente,

assolando o sertão nordestino.

Mais uma jornada

de rostos tristes e duros,

de pés e solo rachados,

de vegetação e estômagos murchos.

Mais um aurorescer de sol tímido,

tentando abrir espaço entre os montes de neve

[antelucanos

que cobrem as estepes bárbaras da Rússia.

Mais um dia de protestos, de marchas,

de tiros e tiranos,

de sonhos e desenganos.

Mais um alvorecer em Nova Iorque.

Somente isso, que os ocupados habitantes

não têm tempo de reparar no sol.

Mais um amanhecer em Buenos Aires.

Sol e lua, tendo oportunidade de se encontrar,

um altivo e a outra orgulhosa,

dançam um tango nos céus argentinos,

para deslumbramento das planícies

cortadas por rios de prata.

Mais uma vez, os raios de sol mergulham

na antigüidade do Mediterrâneo,

juntando seu brilho ao das pioneiras civilizações,

somando seu calor ao das crateras do Etna

e do Vesúvio, favorecendo um dia turístico

nas ilhas gregas.

Ainda uma vez, o sol se apressa

sobre a África.

Mas será mesmo o sol

ou são fogos bélicos?

Avassalador o sol se sorri,

sobre as savanas africanas

dos reis depostos.

No centro do sistema,

o sol nasce para mais um dia,

produzindo e exportando luz

e calor sem saber para quê.

Consumindo-se em suas própria chamas,

até que se esgote a energia

da última fusão atômica.

Daniel Afonso
Enviado por Daniel Afonso em 21/03/2010
Código do texto: T2150264
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