Estrada de lembranças
Vou pelas estradas desta vida
Como quem navega num deserto
Por neblinas invernais coberto
Suprimindo a lágrima caída
Não possuo vosso toque, nem nada
Tenho-te só em meus pensamentos
Tenho uma chuva de sentimentos
Áridos, tal musica sem toada...
Quando num sopro sou remetido
Para um passado já tão distante
Sinto vosso suspiro ofegante
Em meu ombro doce zumbido
Num estalo me transformo em brasas
Tal primavera que se converte
Em verão, mas segue inerte
Em lembranças... É voar sem asas...
Num estalo viro pólo norte,
Vou por este deserto de prédios
Repletos de graças e de tédios
Já não há porto que me comporte...
Aí! Aí! Vou respirando quimeras
Expirando pesadelos cruéis
Vou pelas madrugadas infiéis
Em que tenho alegrias efêmeras
Em meu pensamento és só minha,
Moldo-te tal qual eu lhe desejo,
Pois, no pensamento não há pejo
Desenho-te plebéia e rainha
Dentro de um castelo de promessas,
Num sentimento tão desconexo
Vejo somente teu reflexo
No horizonte saudades espressas
De quem traz alento no semblante
Quero-te em meus campos selvagem
Venha a mim no sopro de uma aragem
Em brumas divinais ser amante...
Vou pelas estradas tão sozinho,
Caminho sobre vidros descalço...
Este amor é tal topázio-falso,
Flor sem pétalas, enorme espinho...
(Joselito de S. Bertoglio)